Dezembro 8, 2024
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Apenas o ouro olímpico na maratona movia Carlos Lopes

Carlos Lopes precisou de 20 anos para chegar ao ouro em LosAngeles1984, confessando ter preparado a maratona para ser campeão olímpico, numa entrevista em que revisita, quatro décadas depois, o momento que o perpetuou na história do olimpismo nacional.

“Recordo tanta coisa, das coisas bem feitas, das coisas mal feitas, daquilo que se passou antes, daquilo que se passou depois. Acho que foram precisos 20 anos para lá chegar, e isso foi com muitos litros de pingas de suor a percorrer a minha história, porque nada se faz sem trabalho. É preciso ter coragem, [ser] determinado, abdicar de muita coisa”, enumerou.

Em entrevista à agência Lusa, em Santa Cruz (Torres Vedras), o primeiro campeão olímpico português recordou aquele 12 de agosto de 1984 e as 02:09.21 horas que correu rumo ao ouro e que perduraram, durante 24 anos, mais concretamente até Pequim2008, como recorde dos Jogos.

“Foram dois anos e meio a preparar a maratona. E até à maratona dos Jogos, eu nunca ganhei maratona nenhuma, nem era esse o meu princípio. Porque eu, quando fui para a maratona, ou quando comecei a pensar na maratona, não fui para as maratonas comerciais, mas sim para ser campeão olímpico”, afirmou.

Depois da prata nos 10.000 metros em Montreal1976 e da ausência em Moscovo1980, devido a lesão, Carlos Lopes sabia bem o que queria daqueles que seriam os seus últimos Jogos.

“Eu preparei a maratona para ser campeão olímpico, que era o meu sonho. Um sonho que se tornou realidade, com muito trabalho, com muito sacrifício, e como digo, com muitos, muitos pingos de suor, que foram muitos litros de água, ao longo destes dois anos e meio. Mas que, de certa forma, valeram a pena”, confirmou.

Lembrar aquele domingo quente leva o antigo atleta do Sporting, atualmente com 77 anos, a vaguear pela memória, na qual seleciona episódios como o facto de a mulher Teresa não ter bilhete para entrar no estádio, ou de ter ‘ludibriado’ a organização para aquecer fora do pavilhão destinado para esse efeito.

“A partir daqui, desenrolou-se a prova que toda a gente conhece. Quero dizer que as dificuldades foram poucas, muito poucas mesmo, dentro da competição. […] Aquele momento de consagração… quando cheguei à meta, disse ‘fogo, esta é minha, ninguém ma tira’. É que eu cheguei ao estádio tranquilo, sozinho, com a liberdade de expulsar aquilo que eu queria. E, portanto, deu para agradecer ao público que estava presente, porque, de facto, é o momento único da vida de qualquer atleta, ainda por cima no país que foi”, relatou.

Recebido como um herói em Portugal, passou “um mês a ser homenageado”, foi convidado pelo presidente norte-americano Ronald Reagan para a Casa Branca e viu-se “obrigado a fugir para começar a treinar e para ter descanso”. “Mesmo assim andei pelos núcleos do Sporting, do Canadá, pelas Américas todas”, acrescenta.

Quatro décadas depois, o antigo atleta, nascido em Vildemoinhos (Viseu) em 18 de fevereiro de 1947, admite que estes foram 40 anos que lhe deram prazer e resultaram de uma enorme vontade de vencer, uma característica inata reforçada pela estreia em Jogos Olímpicos, em Munique1972.

“Foram uns Jogos de conhecimento e reconhecimento. Conhecimento, porque eu aí aprendi a ser. Reconhecimento pela minha presença e aquilo que eu pensava para o futuro. Aí comecei a conhecer os melhores atletas. Ia para a bancada todos os dias, ia ver os treinos de toda a gente, desde os 100 metros à maratona. Aí foi uma abertura que me deu a perceção do que é que era preciso fazer. Aprendi muito, muito, muito. Foi aí que eu comecei a imaginar um dia ser campeão olímpico”, revelou ainda à Lusa.

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