Estreou-se o Festival da Saudade. As portas abriram-se às 17h e, a partir desse momento, foram entrando e chegando dezenas de visitantes ao festival, que aconteceu pela primeira vez ontem, dia 15 de agosto, na cidade de Fátima.
Ao som da boa música portuguesa comeu-se, bebeu-se, dançou-se, cantou-se e, acima de tudo, sorriu-se muito. O primeiro dia do Festival da Saudade, que aconteceu pela primeira vez este ano, foi um sucesso e reuniu famílias e amigos, junto ao Heliporto de Fátima. Para além de ser um grande festival de verão, a festa decorreu naquela que é, provavelmente, uma das cidades de maior devoção dos portugueses. Não só daqueles que estão em território luso durante todo o ano, mas principalmente dos portugueses que estão emigrados por este mundo fora.
França, Inglaterra, Brasil, Suíça e até China, muitos foram os países de onde vieram os foliões que encheram o recinto do Festival da Saudade para ver os seus artistas favoritos.
A tarde, bem solarenga, começou calma, mas sempre em festa. O palco foi inaugurado com um grande concerto dos The Peorth, que cantaram êxitos de rock conhecidos internacionalmente. Depois o artista Lorenzo entrou em palco com as bailarinas, deixando um rasto de felicidade e música bem portuguesa no ar. Em entrevista ao Ponto PT, o artista deixou claro que ficou “muito feliz” por estar no “seu” concelho de Ourém e sabe que sendo esta uma zona com muitos emigrantes, se vai sentir uma “saudade especial” no final do concerto. A todos os fãs dedicou um dos seus êxitos, a música “cadela”, que fechou o concerto em beleza.
O humorista português Herman José arrancou gargalhadas da plateia e, como sempre foi um grande sucesso, deixando todos bem-dispostos.
Quando o dia já escurecia surgiu um grande coração vermelho no palco, que simboliza a saudade e, atrás deste, fez-se uma contagem decrescente para a atuação de Mickael Carreira que, como sempre, arrebatou corações da plateia.
De entre as muitas fãs que ocuparam as primeiras filas, foi escolhida uma jovem para acompanhar o artista em palco. Vera Jesus, do Alto Alentejo, veio sozinha ao Festival da Saudade, com o grande objetivo de ver o ídolo Mickael e é com uma grande alegria que diz: “tive uma grande surpresa ao ser chamada para dançar com o Mickael no palco. Vou embora realizada”.
O festival terminou ao som de Mariza, a grande fadista portuguesa. Coberta com um vestido de lantejoulas, brilhou mais do que o céu estrelado que se viu na noite de verão de ontem. A artista cantou e encantou no Festival da Saudade e dedicou a todos um tema ainda inédito intitulado “Amar-te”, do novo álbum que “ainda está no forninho”.
Vitor e Helena foram um dos casais mais apaixonados do público enquanto Mariza cantava. Os “pombinhos” dançaram abraçados e não deixaram indiferente o sentimento de amor que sentiram. Estão de parabéns, casados há 27 anos, feitos esta semana, vieram de longe, de São João da Madeira, a convite da filha, como prenda de aniversário. Extremamente felizes e emocionados pela esfera envolvente dizem ter “um grande desejo de que o festival tenha mais edições”.
Durante todo o festival não faltou alegria. O público gritou e vibrou ao som de cada artista, mas ficou um gostinho de “quererem voltar” que, com certeza, vai deixar muita “saudade”.
As histórias dos emigrantes portugueses que sentem a palavra “saudade” como ninguém
Manuela Silva foi uma das primeiras a chegar ao recinto. Como é “pequenina” esperou, pacientemente, na primeira fila do palco durante as várias horas em que por lá foram passando vários cantores. Em pé e, na companhia do marido, assistiu ao concerto dos The Peorth, Lorenzo e ainda de de Herman José, Mickael Carreira e Mariza, que, segundo a própria, foram os artistas que “verdadeiramente a levaram a vir ao festival”.
Manuela está emigrada em Inglaterra e “aproveitou” a visita a Fátima para ver os artistas de eleição. Conta que está em Inglaterra há 20 anos, mas que tem família em Portugal e vem visitá-los todos os anos. No que toca a si, acha que estiveram presentes muitos emigrantes já que este é um festival dedicado a eles. Manuela Silva manteve-se firme na primeira fila do festival e, no fim, ainda conseguiu um cumprimento daquela que é, na sua opinião, “a melhor fadista portuguesa”, a Mariza. “Achei este festival espetacular. É uma grande alegria estar aqui, principalmente perto de Fátima. Estou encantado”, quem o diz é Fernando Caminha. Está emigrado em França há mais de 50 anos, volta todos os anos a Portugal, o país do seu coração e deseja “regressar de vez para a reforma”. Apesar de ter os filhos em França, afirma que toda a família tem um grande desejo de voltar a Portugal todas as férias. “Em Portugal vive-se de outra maneira. Há festas por todo o lado e acho que esta é a melhor maneira de estar com os amigos. Não posso deixar de referir que o espetáculo da Mariza foi imenso. Adorei a interação dela com o público”, termina Fernando com grande alegria. “Ficamos muito felizes por existirem estes festivais porque sabemos bem o que é a saudade”, Emília Marques e Manuel Alves.
No Festival da Saudade o que não faltam são histórias de amor, mesmo as mais improváveis. Emília Marques e Manuel Alves são casados, no entanto, mesmo antes de se conheceram já tinham Portugal como a “terra da saudade” já que emigraram em tenra idade.
De cadeiras postas e “muito bem instalados” vieram ver o Herman José, Mickael e Mariza e contaram-nos a sua história. Manuel emigrou para Paris, em França em 1970 e a esposa em 1958, também para França. Conheceram-se já emigrados, casaram-se, tiveram duas filhas e, ao fim de 11 anos de vida da mais velha regressaram ao seu “tão amado” Portugal, onde permanecem há 36 anos. “Adoramos, gostamos muito deste tipo de iniciativas e esperamos que se repitam. Ficamos muito emocionados por existirem festivais que são na sua maioria dedicados aos emigrantes, porque passamos por lá e sabemos bem o que é a saudade. É difícil”, dizem visivelmente emocionados.
Hoje, 16 de agosto, espera-se ainda muita alegria e muita música que será acompanhada pela bonita voz dos portugueses. Padre Borga, Joana Amendoeira e o maior ídolo de todos os portugueses em geral, Tony Carreira, vão encher o recinto do Festival da Saudade e deixar a cidade Fátima com um timbre ainda mais português.
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