Janeiro 26, 2025
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“O Vinho do Porto é a marca mais internacional que Portugal tem”

Gilberto Igrejas é presidente do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto desde dezembro de 2018. Professor e investigador na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, fez o doutorado em Genética e Biotecnologia tendo desenvolvido uma carreira académica de caráter internacional, com o doutoramento em França e um pós-doutoramento na Austrália, em 2001. Realizou ainda uma pós-graduação em Medicina Legal em 2002 e 2003, na Universidade do Porto. Desde 2018 que lidera o IVDP, tendo por missão promover o controlo da qualidade e quantidade dos vinhos do Porto e Douro.

Qual é a missão e o propósito do trabalho do IVDP?

O objetivo do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto prende-se essencialmente com quatro eixos estratégicos: certificar, defender, controlar e promover as Denominações de Origem Protegidas do Douro e Porto e tudo aquilo que se faz no seu mercado. De alguma maneira, estes quatro pilares assentam aquilo que é a importância do IVDP na região, porque através da certificação nós garantimos ao consumidor que os vinhos são vinhos com qualidade para poderem ser consumidos e usufruídos por parte dos consumidores.

Através da defesa, nós garantimos, por um lado, a proteção das marcas Douro e Porto, quer em Portugal, quer nos mercados internacionais, onde nós fazemos através dos gabinetes jurídicos, uma defesa muito exaustiva em termos de marcas coletivas Douro e Porto. A parte do controlo e fiscalização que são efetuadas não só na região, mas também depois ao nível das cadeias de distribuição, garantem que temos uma genuinidade do produto que vendemos, ou seja, os nossos vinhos do Douro e Porto. E finalmente, e não menos importante, a promoção, que é bastante relevante a nível de mercados internacionais e cada vez mais, porque nós assistimos mundialmente a uma quebra da comercialização global de vinhos. Mundialmente está-se a assistir a essa queda e França também não é exceção. Portanto, em França também está a diminuir a quota de mercado em termos de comercialização de vinhos e, portanto, a promoção vai ser uma forma também de alavancar esse crescimento que nós esperamos que possa existir.

Não faz sentido separar as duas marcas …

Não faz sentido. A nossa promoção é uma promoção estratégica e com as duas DOP, porque elas representam, grosso modo, o maior volume de negócio da Região Demarcada Douro e, portanto, nós não fazemos promoção individual do Porto nem promoção individual do Douro. Fazemos a promoção conjunta das duas DOP.

Que características que existem nesta região?

Esta região é uma região muito peculiar. Se nós olharmos à história, esta é uma região onde já no tempo dos romanos se fazia a cultura da vinha e, portanto, uma região com uma história imensa. Mas tem peculiaridades. Tem desde logo um rio. E o facto de nós termos um rio, não é um rio que nos separa, é um rio que nos aproxima. E aproxima porquê? Porque no passado foi este mesmo rio que serviu para transportar o vinho da Região Demarcada do Douro até aos cais de Vila Nova de Gaia, permitindo que ele depois embarcasse, no caso do Vinho do Porto, para o território inglês. Mas hoje, este rio, é também um rio que traz turismo e, portanto, nós temos também essa porta de entrada de muitos turistas na região, precisamente através do rio. Mas qual é o aspeto mais relevante desta região? O aspeto mais relevante desta região é esta cultura da vinha, que foi desenvolvida à custa do esforço humano. É muito relevante dizermos isto: à custa do esforço humano que edificou um território cultural, evolutivo e vivo, que permitiu que nós tivéssemos cerca de 43 mil hectares de vinha plantada, que consignam aquilo que é a Região Demarcada do Douro, e que permitem precisamente estes dois néctares: o Douro e o Porto.

Mas esta região tem custos de viticultura muito acrescidos. Nós não estamos a falar de propriedades que são horizontais e que podem ser granjeadas e trabalhadas com máquinas. Estamos a falar de custos de mão de obra bastante excessivos e estamos a falar de uma região única porque é uma viticultura de montanha. E o facto de termos aqui uma viticultura de montanha aporta custos de produção muito superiores aos de qualquer outra região do mundo e, portanto, esta é a peculiaridade desta região.  Temos aqui um verdadeiro jardim de vinhas em terrenos que não são praticamente nada favoráveis à cultura da vinha, mas que o homem, com o seu trabalho, com o seu esforço, conseguiu edificar e, fruto deste terroir, propiciou que nós mantivéssemos aqui um conjunto de mais de 116 castas diferentes na Região Demarcada do Douro.

Os valores de 2023

Quais são os principais mercados?

Os principais mercados têm sido essencialmente, no caso do Porto e em termos de valorização, Portugal à cabeça. Inverteu com a França em termos de valorização do produto. Atualmente somos o primeiro país em termos de valorização, temos depois a França, os Estados Unidos, a Dinamarca e os Países Baixos, como países muito relevantes. E no caso do Douro, temos essencialmente Portugal, e depois o Canadá e o Brasil como países muito relevantes, e que já começam a ter quotas de expressão.

Porque é que França é um mercado importante para os vinhos Porto e Douro?

França tem, desde logo, uma comunidade portuguesa e, portanto, esses são os melhores embaixadores que podemos ter daquilo que são os nossos vinhos. Conseguimos fazer com que os nossos vinhos possam ter uma explicação detalhada da sua qualidade, do seu território através dos portugueses. No passado, nós sabíamos que era assim. Agora importa rejuvenescer esse mercado e passar esses ensinamentos às jovens gerações, por forma a que essas jovens gerações continuem a levar os nossos vinhos, os vinhos da Região Demarcada do Douro para o território francês. Aquilo que nós acreditamos é que é precisamente através destes embaixadores, através desta nossa comunidade portuguesa que está espalhada por todo o mundo, que nós podemos também afirmar a promoção e a proteção das nossas DOP. Acresce todo um histórico que nós temos com França em termos de Master of Port, em que nós, todos os anos, temos vindo a fazer trabalho precisamente na escolha desse Master of Port e que nos permite ter uma relação muito próxima com a nossa diáspora, mas também com o público francês, que cada vez mais é um público de elite e que, cada vez mais, aprecia não só o Vinho do Porto em sentido lato, mas também as categorias premium que nós estamos a lançar e que são muito apreciadas também já em território francês.

E que projetos e iniciativas estão pensadas para França?

Durante o mês de outubro e novembro nós vamos ter uma serie de iniciativas, como cocktails mais informais, precisamente com o espírito de atrair um público mais jovem para descomplicar o consumo do Vinho do Porto. Temos masterclasses, temos provas comentadas, portanto, todos estes momentos são momentos que de alguma maneira vão apelar ao conhecimento da região e que sensibiliza os candidatos ao Master of Port que vêm de França a terem um conhecimento muito vasto da nossa Região Demarcada do Douro. Eles conhecem locais, conhecem capelas, conhecem sítios emblemáticos, romarias, miradouros, quintas, enólogos. Eles têm um conhecimento muito detalhado da nossa região e isso, para nós, é uma honra, é um privilégio podermos ter pessoas que, não sendo naturais nem nacionais, têm esse conhecimento tão exaustivo da Região Demarcada do Douro.

A sua história faz do Vinho do Porto uma marca muito forte a nível internacional?

Não tenho qualquer dúvida que o Porto é a marca mais internacional que Portugal tem. Portanto, o Vinho do Porto é, seguramente, a marca mais internacional. Se nós perguntarmos a qualquer cidadão de uma outra nacionalidade, o que conhece de Portugal, eu não tenho qualquer dúvida que num top três o Vinho do Porto vai surgir sempre destacado.

Objetivos futuros

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